domingo, 4 de maio de 2008

Nunca pertenci.

Eu nunca pertenci a nenhum grupo social. Sempre fui muito cheinha pra andar com as bonitas, muito bonitinha pra andar com as feministas, feminista demais pra entrar para as anarquistas. E minha vida continuou nisso. Sempre tentando me encaixar em algum grupo, ente coletivo, clubinho, qualquer coisa, até numa reunião espírita estava valendo.

Depois das dúvidas adolescentes, surgiram os outros problemas de encaixe. A dificuldade era grande pra escolher entre H - de hétero - ou GLBT - derivações mais diversas da sexualidade. Cinco grupos para se encaixar, e eu, como sempre, rejeitada: até pra ser considerada BI eu era hétero demais. E prosseguia tentando, chutada dos grupos. Saradas e sedentárias têm - ambas - dificuldades para me absorver. Nunca soube responder, convicta, se era alguém "do dia" ou "da noite". As dúvidas entre ser calorenta ou friorenta voltavam-me atrozes a cada início de estação. Nem preciso dizer que oscilo com razoável desenvoltura entre as boas e as más.

Cada vez que me colavam um rótulo, eu ia saindo pelas beiradas. Nenhum nunca colou em mim assim, de verdade. Os meus pretensos iguais não se viam como eu ao olharem-se no espelho. E nem eu conseguia me enxergar naqueles modelos ultrapassados de grupo. Todos necessariamente aglutinadores, qualquer que fosse a profundidade daquelas relações.

Segui assim toda minha vida, já desprezando qualquer nova tentativa de agrupar-me. Nunca consegui ser careta. Nunca me afundei nas drogas com vontade. Fiquei sempre no médio, no meio. E era assim, chutada levemente pelos que se pretendiam superiores somente por estarem em grupo. Fui seguindo sozinha. Deitei-me em divãs de todas as terapias (exceto as grupais). Conformei-me. Ergui-me e passei a intitular-me contente embora sozinha, independente, bem resolvida. Até, às vezes, feliz.

E fui levantando a bandeira de quão bom é ser única, individual. Mas quer saber? Preciso fazer uma confissão: vou voltar aos Vigilantes do Peso. Lá eu era alguém.

3 comentários:

Anônimo disse...

adorei o que voce escreveu D+

Anônimo disse...

Parece um espelho da minha alma!! Sempre me senti assim, só não sabia expressar, talvez por medo de reconhecer a solidão!Grande beijo, Pedro!

Pedro Fonseca disse...

anônimo(a), caso nos conheçamos, identifique-se!!!
beijos.