segunda-feira, 28 de abril de 2008

Desejos de alma humana

Jorro branco transformado em lama
Vi-te nascer reluzente, na cama
De uma catarse de genialidade humana
Ou de um doce amor, que ao momento engana
E chorei-te ao morreres apagado, na fraca chama
Quando já não és mais lama, já não rolas na cama
E já nem mais enganas. Agora, és só a alma humana.

Frustração do gozo inalcançável

Vida, masturbação sem gozo.
Num infindo vai e vem a lugar nenhum
Sem se sair de onde se está
Sem consciência de que o gozo não chegará.
E se chegar - instantâneo - de que valerá?

Tantos sêmens lançados ao vento
Inférteis vidas mortas antes de nascer
Sonhos ilusórios, doces consolos
Almas estéreis na luta vã da perpetuação.

Como se possível fosse continuar
O que na natureza é efêmero
E na essência é tudo o que temos
E cujo valor total é um mero nada.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Ponto cego

Da ilha segura de onde estou
Encaro o precipício do outro
Sempre perigoso outro.
Enfia a faca,
e torce-me o pescoço.
Saio da terra firme que me abraçou
A me perder no fundo do poço
Procurando o imaginado ponto certo
Na memória e no olhar presente.
E lamento: a cada passo, sinto-me só
Pressentindo-me menos perto.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Poema a minha terra

Triste terra que tanto engana
E faz de uma preta qualquer
Uma falsa autêntica baiana
Para lentes vorazes de gringos
Brancos, pretos e japoneses.

Tristes falsas baianas
Cores nas suas caras maquiadas
E cor nenhuma nas guias do seu coração.
Nem tem santo na cabeça
E nem tabuleiro que mereça
A reverência de um ogã.

Já cantadas triste Bahia e falsa baiana
Terra pobre que rima com poesia
Mas que vive assistindo de braços cruzados
Os seus santos amarrados
E os seus homens afogados
Nesta lenta letargia.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Versos de bons tempos

Esse pretensioso humano que somos
Quer esconder-se, na complexidade
Dos modelos, velhos, clichês e simplificados
De outros que também se pretendiam complexos
E cujos caminhos também se cruzaram.

Narcisismo estranho este que compartilhamos:
Pensamo-nos tão complexos.
Você se diz bicho, eu me creio humano
Mas no fundo, sou o humano mais plano
E você, o bicho mais humano.

Esperados versos

Lê-me sujeito sem predicado
Sem falsos predicados,
Adjetivos inventados,
Nada de elogiosos agrados.
Mas sou-lhe grato.

Bem-intencionada crueldade
Procuro mentira em sua verdade,
Busco jogos na honestidade.
Mas encontro conclusões inequívocas.
E são tantas as minhas dúvidas!
Arrebata-me a sua certeza.

Pediu-me versos?
Escancaro-me em prazeres perversos
Do estranho gozo alheio
Que desnuda pela verdade.

Descobrir-me masoquista não provoca dor
Mas encontrar o sádico certo
Traz inevitável angústia:
Querer-te ter sempre perto.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Mais do mesmo

Fico assim observando
Tantas bocas abrindo e fechando
Expelindo verdades incertas
Tramando mentiras inúteis.
Eles sorriem de tudo, eles choram do nada
Parecem pensar que algo de fato vale a pena.
Dou passos atrás das gargalhadas alheias.

Manhãs até que são fáceis
Vagueio nas banalidades
Começos rasos e planos,
Mornos e Mortos.
À tarde, tornam-se ágeis
Angústias constantes
Vulcão dilacerante
Dêem-me, por favor, um instante.

Vou roer todas as unhas internas
Mas não derramarei metade das lágrimas presas
Morrerão presas em solitária
Na solidão da minha angústia.