sábado, 25 de abril de 2009

Um interdito

Eu queria que fosses talvez
Que olhasses para mim talvez
Que me quisesses como te quero.
Ainda que fosse uma vez.
Mas esse talvez - que pena!
Parece-me vez nenhuma,
Quando tudo, e quando tu
Dizes-me que não há chance alguma.
Mas renego o que me dizes,
Fecho os olhos às circunstâncias todas
(E as todas são tantas, e tão infinitas)
Que me prendo a uma possibilidade remota
Como se fosse concreta
Iludo-me num quem sabe, num quiça ou num acaso
Como se estivessem tudo e todos enganados
E então me engano ainda mais,
Sonhando com um sim possível
Embora acorde - dia-a-dia - num não impassível.
(porém previsível).

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Lance pensado

Mesmo na carta de suicídio,
recorrera a clichês.
Fartou-se de obviedades:
cansava-lhe por demais o sofrimento,
como se alguém o prezasse.
Ninguém o prezava (a ele), disse.
Nem tampouco ao tormento.
Apenas a poucos é caro o momento.
Vendemo-nos barato à derrocada.
Redigira a sua morte numa só sentada.
Pura mentira.
Passara a vida insone, tramando.
Arrastou dias, desperdiçou noites.
E agora mete a bala, em ira
Não contra si, mas contra todos.
Porém não deixa rancores, afirma.
Em só mais uma linha tramada,
pensada, costurada, numa noite sem rima.