segunda-feira, 14 de julho de 2008

SIM E NÃO

Têm dificuldade de dizer sim, apenas.
Recorrem a subtefúrgios diversos:
sussurram hum-runs, repetem os verbos.
Pergunto-te se queres, respondes-me: - quero.
Quero saber se vais, dizes-me: - vou.
Mas não me dizes sim.
Mas logo ele? Logo o sim?
A entrega total amendronta-te.
Quero sim, tão-somente. Absoluto sim.
Ir-se, dar-se, entregar-se-me em três letras apenas.
Não hesitam no medo. Não hesitas no não.
Repetes para aliviar-te a recusa,
Dizes-me: - não, não.
Ou dá-me uma breve esperança, invertes
E respondes-me: quero não. Vou não. Gosto não.
Penso num breve segundo que tenho um sim disfarçado,
Mas vem-me num tiro o tudo que tenho:
Um não escancarado não.
Diz-me uma vez sim. Sim-plesmente sim.

Pena de si, lamento de mim

Preciso ser lido.
Caço elogios para matá-los
E, sem pesar, enterrá-los.
Gravo nas suas lápides o que temo serem:
Levianas e falsas declarações de agrado.
Serão algo mais do que simpáticas condescendências?

Quero ser ouvido.
Mas espero mais que concordâncias condolentes.
Agradam-me o enfrentamento insolente,
A brasa quente e as pedras cruéis.

Basta-me o espelho para apedrejar-me vorazmente.
Por que então desejar perfurar-me com suas lanças?
Ignoro às vezes o meu próprio reflexo.
Busco-me em ti, como um retrato de mim.
Desgradável retrato. Não lhe posso ser grato.

Estranho-me pois se sorrio
Tenho pena de minhas próprias lágrimas,
Choradas ou engasgadas.
Tenta-me assim ver a mim mesmo
Com olhos que não me pertencem
Que jamais enxergarão o mesmo que eu
Mas que me enxergam a mim, sem dó,
sem pena, como não gostaria eu de ser visto.
(mas como preciso ser visto, ou quisto).
Só isso.