sábado, 29 de março de 2008

Absoluta verdade

Quando de dogmas absolutos
Brotar num feto a relatividade
A necessária relatividade
Considerando ao menos uma vez
Que há no outro uma alteridade
Nada fará mais sentido algum
Tudo terá a lógica de um
Raciocínio furado e fadado
A um todo e completo fracasso.
E aí você verá que essa sua verdade
Do alto de sua maturidade
É só uma mera possibilidade
Só um caminho de possível verdade
E essas palavras tão absolutas
Faladas com tamanha autoridade
Perceberão no curso do caminho
Que sua verdade só se limitou
De um universo, uma possibilidade.

Pleito de esquecimento

E as bossas continuarão novas
Para quem as quiser ouvir.
Mas a trilha que um dia escolhemos
Esta, morrerá antiquada.
Adentrará pela lembrança,
Até tornar-se inadequada.
E os novos sambas já não serão compartilhados
Já não me farão cantar, não lhe farão dançar
E nem a qualquer de nós chorar.
E os momentos deixarão de ser tormentos,
As expectativas esquecerão a esperança
E só permaneceremos plural no passado.
Os lampejos de nicotina continuarão
Inúteis paliativos a problemas outros,
Que não o outro que um dia foi presente
E se tornou registro de um momento vão.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Tormento

Quero q-boa para os meus pensamentos
Preciso-os, ao menos uma vez, em branco
Limpos, sem sorriso e sem pranto
Desculpe a franqueza, mas confesso a fraqueza:
Dormir é alento quando acordar é tormento.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Um desafio ao final

Preciso mesmo iludir-me um pouco
Prefiro às vezes pensar ser mais do que sou
Não sei se suporto saber-me só nada

Termino vivendo sem descer do palco
Torno-me platéia de mim mesmo
O que mais angustia é não crer no personagem

Vivo assim, pretensioso
Falando do que não conheço
Sorrindo nos momentos certos, para não frustrar
Omitindo falhas estratégicas.

Fingir dói mais do que ser enganado
Não mais quero mentiras-esparadrapo
Tapando a verdade das feridas da vida
Escancará-las-ei às lágrimas
E você?

terça-feira, 25 de março de 2008

Gole de Cajuína

Existirmos
Creio que a nada se destina.
Mas valerá dar a vida à cajuína?
Busco um sorrir nos olhos da menina
Para forjar uma esperança pequenina.
Se bem que prevelace a nossa triste sina
Haverá fim para uma alma peregrina?
Choro de longe pelo que houve em Teresina
Tento em vão confete e serpentina
Reproduzindo rima alheia de voz fina.

Superego

Chora de rir meu superego maldito
Tem o que quis: desequilíbrio total
Rasgo tudo o que havia escrito
Já me parece não haver lugar adequado para minhas mãos
Meto-as e tiro-as de todos os bolsos
Mas continua faltando métrica no ritmo do meu sorriso.
Nessa hora, também o seu sofrer me parece irrelevante
Não funciona a contra-cena, vira tudo melodrama.
Ouço minha voz alto demais, e falta-lhe melodia
Vejo desajeitados gestos e versos no espelho do seu olhar.
Empresto-lhe, superego, ao meu interlocutor mais seguro
Que de você carece mais mais do que eu.

Macacos de Madeira

Busco em mim, com esforço
Macacos siameses de madeira
Surdo, Cego e Mudo
Todos eles imobilizados
Extasiados em sentimentos.

Haverá transbordar para um balde de lágrimas?
Procuro a mola no fundo de cada poço
Não encontro a propulsão, ofuscam-me pequenas luzes
Gozos tolos para garantir a perpetuação
Quem os haverá instituído?

Vejo-me e vou-me empurrado
O melhor consolo é que nada importa
Pretenso qualquer-coisa não consegue ver
Espelho em gatos vira-latas que também seguem chutados
E que também não são plurais, e que tampouco são felizes.

Continuo preenchendo palavras-cruzadas
Passando o tempo com sorrisos, enxugando lágrimas
Buscando rimas, como se fosse possível
Prosseguindo anônimo, como os sentimentos algo sinceros.

domingo, 23 de março de 2008

Tem crítica nova lá no meu blog de cinema.
Aqui.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Um lamento, um agradecimento

Rompeu-se a tênue linha
Não sei dizer a razão
Será mesmo que a cumplicidade
Era só uma mútua mentira?
Verdades entraram devastando
Tornaram-nos desinteressantes
Tornaram-na desinteressada
A tensão neste fio fez lasca-lo por fora
E lascar-me inteiro por dentro de dor.
Que pena que não lhe sirvo sem máscara
Me fará falta, para além da companhia.
Desculpe-me se lhe fiz de bengala
Nunca pretendi usa-la.
Aprenderei de vez a andar
Ou desistirei de caminhar.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Angústia II

Compro pães, como queijo
Me empanturro.
O que realmente importa
Mais uma vez empurro.
Fico fazendo da recreação
O prato principal
Nunca chego à refeição.
Não preciso olhar pra dentro
Conheço-me de coração e salteado
Preciso romper a barreira da divisa
Lascar a parede que me circula
Morrer o mais rápido
Matar-me o mais rápido
Nascer feto, fraco
Mais forte do que esse fraco que sou.
Quero parar de comer tudo isso
Preciso vomitar todas as minhas tripas.
Me distraio com as amenidades
Finjo-me mesmo ocupado com a rotina
Do mundo criado para esconder o instinto
Deixo-me passar pelo que quiserem pensar
Termino tornando-me o que decidem por mim
Continuem assistindo de camarote, aproveitem
Não sei até quando vestirei essa máscara
Vomita-la-ei aos poucos ou aos muitos
Já me enjoam demais todas essas correntes.

Angústia I

Agora realize meus medos:
Cuspa-me, Chute-me, Dispense-me.
Despeça-se de mim, figurante
Faça tudo ser bem fácil
Torne automáticos os sentimentos
Procure em qualquer um o que te dei
Já não importa mais,
Já não valho mais.
E nem consigo mais.
(Mas quero mais)

domingo, 16 de março de 2008

Insegurança

Qualquer não sorriso teu
Faz-me pensar que te perco aos poucos
Já te vejo tão perto, e tão longe
Sinto teu olhar buscar algo mais atrativo do que eu
Esgotei tudo de interessante que tinha a te oferecer
Será hora de passar a mais uma sedução sem futuro?
Meus papos já não têm mais surpresa
Entreguei-me todo, vejo-me aprisionado
Em tudo aquilo que inventei ser
Mas que já não desperta o brilho do teu olhar.
Todas as minhas cartas estão na mesa
E, ao que vejo, já não lhe apraz qualquer delas pegar.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Azia de ser

Por que tanto busco respostas lá fora
Se encontro cá dentro tudo que preciso?
Espreito, à tôa, janelas mudas e surdas
Só o espelho é digno interlocutor
Um dia paro de abrir portas
A nada levam estas vias tortas
Cansarei-me destas diversões mortas.
Haverá remédio para minha azia de ser?
A cura, meu bem, não está em você
Talvez esteja, como um doce escondido
Na mais óbvia rima da palavra viver.

quarta-feira, 12 de março de 2008

terça-feira, 11 de março de 2008

Busca

Perguntam-me o que sou
Respondo só com mentiras.
Escondo todas as minhas cores
Mostro-me em preto-e-branco
Como se fosse plano, e pleno.
Não sou nada disso que mostro ser
Escolho um pedacinho de meu eu
Aleatório, e a cada vez um,
pra cada outro, um diferente um.
E aí falo, olho, ouço, choro
E lá dentro, há os que farreiam,
Os que lamentam e gritam
E que sussurram segredos.
Procuro saber quais são eu.

Maria de Rua

Chore, Maria.
Não lhe deram outra saída:
se não as lágrimas, sobra-lhe a morte.
Viva, Maria.
Finja não haver solução:
contente-se com sua própria sorte.
Ande, Maria.
Faça mover seu corpo morto:
esconda que em tanta miséria não há vida.
Enxugue, Maria.
Seu rosto molhado só comove:
Mas não adianta, ninguém se move.
Pegue, Maria.
Coma essas migalhas:
Lambuze-se com nosso resto.
Sorria, Maria.
Já chega desse sofrer escancarado:
Nada farei, seguirei incomodado.
Aos poucos, Maria, já te esquecerei.

Meros ciúmes tolos

Desconheço a razão de mais este código
Dizer não querer o que na verdade se quer
Parece-me não haver um porquê.
Soa estranho essa regra do jogo
Que sentido há em afirmar-te decidida
Se no fundo hesitas?
Nunca te revelaste fraca, nem tampouco leviana
Qual então o mérito de contradizer-te sempre?
Faz o que desejas, não me deves explicações
Deixa-me desconhecer as regras do jogo
Pois este prêmio, duvido se quero ganhar.

Espelhos

Atraem-me as janelas
Vejo nelas espelhos
Reflexos que poderiam ser meus
Tantos que queria ter sido
Mas que nunca logrei ser.

Vejo através de seu sorriso
Felicidade que não me pertence
Lágrimas que não creio sofridas
Glórias que não quero e nem posso
Aflições que me parecem tolas.

Do parapeito, angústias alheias
Diluídas por entre orgasmos fingidos
Não os quero, falsos gozos
Tocam-me seus sofrimentos
Mas não passam de momentos.

Nariz de Palhaço

Fim das contas, sou só o bobo da corte
Faço-te gargalhar, sorrir e rir
Concordo nos terrenos de tua certeza
Ouço tua pobre ladainha
Deixo transparecer grande interesse
Por teus problemas já resolvidos
Soluções ineficazes e convicções de merda
Opino para fazer-te crer-me inteligente
Divirto-te sem divertir-me
E aconselho, faz como eu:
Paga com um sorriso complacente
Beija-me condescendente
Chuta-me e goza com um outro qualquer.

De mudança

Todos os textos antigos ainda estão no outro blog:

qualidadeduvidosa.weblogger.com.br