terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Palavras de um insône asmático

Respiro estranhamente:
falta-me ar, falta-me algo,
falta-me fôlego.
Num desespero comedido,
vejo-me forçado a respirar fundo,
e suave, sempre suave.
Tenho, no mais íntimo,
o pleito secreto de chorar de dor.
Mas, sempre,
falta-me fôlego,
Respiro a preservar o pouco ar que tenho.

Sinto-me um animal engarrafado.
Vejo a todos, e a mim mesmo,
Presos numa velha garrafa de vidro.
Conserva humana, bonsai mundano,
Não sei se estou vivo ou morto.
Limbo incômodo entre o conformismo e o desespero.
Os meus movimentos, limitados.
Os meus desejos, tolhidos.
Debato-me na garrafa transparente:
tento sair da jaula, mas pareço um animal,
pobre, preso,
coreografando para um público, fiel,
o meu ensaiado despero.
Gasto quase todo o meu fôlego.

Sento-me à beira da cama para respirar.
Já não tolero o calor,
Já não aguento a falta de sono,
Já não suporto os sonhos que intermedeiam os cochilos.
Mas não passo fazer nada.
Faltam-me fôlego, ar e asas.
Maldita asma.
De pouco adiantam-me os banhos,
De nada servem-me os esforços:
tudo permanece igual, e os lençois,
velhos companheiros,
testemunham o desespero insone.
As horas passam, já não sei quanto tempo me resta.
Já não sei venço as horas, ou se as perco,
fugidas por entre meus dedos,
Perdidas em meio a meus medos.
Maldito fôlego.

sábado, 9 de janeiro de 2010

...

As minhas vozes privadas,
todas elas,
constantes e ensurdecedoras,
logram emudecer
O grito dos desejos alheios.
Ouço tiros em lugar de fogos,
vejo fogos em lugar de águas.
Tomo por balas fatais
Declarações de amor,
Sensuais.

Não sei: me ouço rouco
Se expresso algum de meus desejos.
Tento ouvir a minha voz, como se de outro fosse:
soa-me infantil, soa-me imbecil, soa-me nasal demais.
Ressoo, de fatos em fatos, declarações banais.
Enxergo-me num cenário tolo,
Com outros tantos tão bobos,
Com alguns ainda mais insossos
(Questiono-me da existência da rima:
Digo, questiono-me sempre da vida).