quarta-feira, 4 de junho de 2008

Ouvindo os gênios de Irará e Juazeiro

Para ser poeta, não basta rimar.
Tem que ver nas angústias suas
Grilos desesperados que não param de falar.
Cigarras ensurdecedoras e nuas,
Que insistem nesse alto cantar.
Tem que ver riso na desgraça
E na graça, uma grande desgraça.
Há de ver mãe na solidão
E a poeira do sim
Num avalanche de não.
Tem que ver nos carecas de chapéu
E nos homens de gravata
E nos viados de batina
E nas putas de hábito
Muito mais do que a fácil censura.
Tem que ver beleza nos grilos
E riqueza na pobre usura.
Pode até ver nos prédios
Varões que disputam.
E nas ruas, fêmeas que labutam
Vaidosas, cheirosas
Sujas ou porcas.
Pode ver putas nessas belas vistosas
Ou damas em largadas rameiras
Nem um pouco vaidosas.
Pode ver nos galhos secos de árvores mortas
Os fios do cabelo da mais bela menina.
Mas parece essencial
Não deixar que se lance cimento em cima.
Tem que rolar na cama
Sem cobrir-se de lençóis
Ou esconder-se em caracóis.
Também não vale proteger-se em cachecóis.
Tem que honrar em cada verso, ou em cada nota
O fardo e o presente que lhe foi dado:
Essas idéias que borbulham numa cabeça poliglota.

3 comentários:

Anônimo disse...

adorei o que voce escreveu, ja faz parte da minha rotina diaria visitar seu blog porque sei que sempre vou encontrar algo com conteudo abracos

disse...

Uma cabeça poliglota.
Adorei. De certa forma tem um pouco a ver com que escrevi. cansa demais ser poliglota e poeta!
Descobri que não tinha me excluído do orkut. Mas agora resolvi isso..hehehe

Anônimo disse...

Muito show! Poliglota no sentido mais foda possível.

Abs, Pedro