sábado, 3 de janeiro de 2009

Procuro um gato

Há poucos gatos entre nós.
Espalham-se cachorros, bobos.
Dóceis e tolos.
Carentes de qualquer esmola,
De qualquer ração, de apertada coleira.
Disfarçam-se de ratos
(e o são por vezes, também no ato).
Mas são coitados: balançam o rabinho
A qualquer sinal de algum carinho.
São poucos gatos entre nós.
Sós e conscientes de sua solidão.
Donos de seu próprio rabo,
Senhores de suas garras felinas.
Acariciam só se lhe dão o leite a beber
Mas não se vendem por qualquer trocado.
Bebem, e seguem. Livres de toda coleira.
Banham-se sozinhos, fogem dos ninhos.
Parecem bonzinhos, mas não se deixam desvendar.
Têm no olhar um querer misterioso
Que não mostra a hora, e nem razão para saltar.
Procuro em mim um gato, e não só esse cachorro tolo
Que só sabe ladrar. E que se afia as garras,
Está sempre preso ao medo de atacar.

Nenhum comentário: