Não tenho origem judaica ou palestina. Mas, incomodado por um texto de Contardo Calligaris na Folha de São Paulo do primeiro dia do ano, não resisti e enviei uma carta ao jornal. O artigo do psicanalista tratava da condescendência nossa de cada dia com atos criminosos, como aqueles perpetrados pelo regime nazista. Meu incômodo decorreu do fato de o articulista não mencionar, em sua reflexão, o conflito árabe-israelense, que fez o Oriente Médio pegar fogo (mais ainda) nos últimos dias.
Minha carta ao jornal era francamente pró-palestina. Fato é que o conflito entre palestinos e judeus me toca profundamente, e, no final das contas, tendo a me inclinar às razões do povo islâmico, que já habitava aquela terra antes da criação (ao meu ver, irresponsável) do estado de Israel. Os palestinos foram punidos pelo anti-semitismo alemão e pelos absurdos cometidos pelos regimes totalitários na Europa da primeira metade do século passado. A realidade é que enxergo as razões para que um palestino se torne um homem-bomba, mas resisto a dar razão aos judeus na construção do muro.
Uma amiga leu minha carta, publicada pela Folha de São Paulo. Embora frequentemente se negue a enveredar por assuntos "pesados", pediu licença a Belchior ("Ainda sou bem moço pra tanta tristeza, deixemos de coisa, cuidemos da vida. Senão chega a morte ou coisa parecida e nos arrasta, moço, sem ter visto a vida") e discordou de tudo aquilo que eu havia escrito. Chamou-me de neo-socialista, assumiu-se reacionária ("leitora da Veja e telespectadora do Manhattan Connection, confessa") e, reproduzindo o discurso da secretária de estado norte-americana, afirmou: os palestinos são terroristas, os muçulmanos são bélicos (vide ensinamentos de Maomé) e a reação de Israel é legítima.
Contestei à tôa. Desfilei novos argumentos em defesa dos palestinos, repeti que compreendia as razões pelas quais alguns deles amarravam bombas ao corpo, e afirmei que, para mim, Israel era um estado terrorista, e o que seu povo tinha responsabilidade na eleição de governantes que não hesitam em promover ataques a um povo já profundamente acuado, e encarcerado em duas faixas de terra, sem direito a um passaporte, à nacionalidade, à cidadania.
Fui acusado de desonestidade intelectual. Desisti da discussão. É difícil argumentar contra paixões: recorro a clichês, sei - mas elas nos cegam. Cegam os judeus, cegam os muçulmanos, cegam a mim e a minha amiga. Melhor concordar com o escritor israelense Amos Oz: trata-se de uma batalha entre errados e errados. Os moderados precisam se impor aos fanáticos, diz ele. É isso. À minha amiga, digo: o amor bélico não me parece dar bons resultados. Só mata, só desgasta. Em Israel ou em nossa caixa de e-mails.
Cuidemos da vida, senão chega a morte ou coisa parecida...
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
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2 comentários:
Até em nosso conflito judaico-palestino particular, quem incita a beligerância é o lado mulçumano.
Oi Pedro,
obrigado pela visita!
Mas que mentalidade essa da sua amiga, hein? Como ela conheço muita gente por aí...
E ela ainda comete a heresia de citar o mestre Belchior? Ora...
Com gente assim não há discussão. Mas comigo sim. Pode me escrever no e-mail brsamba@yahoo.com.br
Abs
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