terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Ela insiste que eles têm razão

Não tenho origem judaica ou palestina. Mas, incomodado por um texto de Contardo Calligaris na Folha de São Paulo do primeiro dia do ano, não resisti e enviei uma carta ao jornal. O artigo do psicanalista tratava da condescendência nossa de cada dia com atos criminosos, como aqueles perpetrados pelo regime nazista. Meu incômodo decorreu do fato de o articulista não mencionar, em sua reflexão, o conflito árabe-israelense, que fez o Oriente Médio pegar fogo (mais ainda) nos últimos dias.

Minha carta ao jornal era francamente pró-palestina. Fato é que o conflito entre palestinos e judeus me toca profundamente, e, no final das contas, tendo a me inclinar às razões do povo islâmico, que já habitava aquela terra antes da criação (ao meu ver, irresponsável) do estado de Israel. Os palestinos foram punidos pelo anti-semitismo alemão e pelos absurdos cometidos pelos regimes totalitários na Europa da primeira metade do século passado. A realidade é que enxergo as razões para que um palestino se torne um homem-bomba, mas resisto a dar razão aos judeus na construção do muro.

Uma amiga leu minha carta, publicada pela Folha de São Paulo. Embora frequentemente se negue a enveredar por assuntos "pesados", pediu licença a Belchior ("Ainda sou bem moço pra tanta tristeza, deixemos de coisa, cuidemos da vida. Senão chega a morte ou coisa parecida e nos arrasta, moço, sem ter visto a vida") e discordou de tudo aquilo que eu havia escrito. Chamou-me de neo-socialista, assumiu-se reacionária ("leitora da Veja e telespectadora do Manhattan Connection, confessa") e, reproduzindo o discurso da secretária de estado norte-americana, afirmou: os palestinos são terroristas, os muçulmanos são bélicos (vide ensinamentos de Maomé) e a reação de Israel é legítima.

Contestei à tôa. Desfilei novos argumentos em defesa dos palestinos, repeti que compreendia as razões pelas quais alguns deles amarravam bombas ao corpo, e afirmei que, para mim, Israel era um estado terrorista, e o que seu povo tinha responsabilidade na eleição de governantes que não hesitam em promover ataques a um povo já profundamente acuado, e encarcerado em duas faixas de terra, sem direito a um passaporte, à nacionalidade, à cidadania.

Fui acusado de desonestidade intelectual. Desisti da discussão. É difícil argumentar contra paixões: recorro a clichês, sei - mas elas nos cegam. Cegam os judeus, cegam os muçulmanos, cegam a mim e a minha amiga. Melhor concordar com o escritor israelense Amos Oz: trata-se de uma batalha entre errados e errados. Os moderados precisam se impor aos fanáticos, diz ele. É isso. À minha amiga, digo: o amor bélico não me parece dar bons resultados. Só mata, só desgasta. Em Israel ou em nossa caixa de e-mails.

Cuidemos da vida, senão chega a morte ou coisa parecida...

2 comentários:

Anônimo disse...

Até em nosso conflito judaico-palestino particular, quem incita a beligerância é o lado mulçumano.

Unknown disse...

Oi Pedro,

obrigado pela visita!

Mas que mentalidade essa da sua amiga, hein? Como ela conheço muita gente por aí...

E ela ainda comete a heresia de citar o mestre Belchior? Ora...

Com gente assim não há discussão. Mas comigo sim. Pode me escrever no e-mail brsamba@yahoo.com.br

Abs