quarta-feira, 21 de abril de 2010

Quase macacos

Comemos imagens constantes.
Comemos consumos.
Consumimos comidas contemporâneas,
em embalagens contemplativas:
consumimos corpos, consumimos raios azuis
contemporizamos com carroças pós-modernas
poluentes, gigantes, mas úteis à locomoção pela caça.
Consumimos novos machados de pedra.
Improvisamos nossos mercenários nomades,
E buscamos aliados feudais em bolsas de valores.
Lutamos todos os dias.
Corremos atrás da caça, como todos os outros de antes.
Guerreamos selvagemente com os que nos barram o caminho -
Uns: lutam com mais violência, ansiosos por uma porção maior do filé.
Focam incessante na caça, não olham ao redor,
contentam-se com o banquete.
Imersos em e-mails pela madrugada, nunca deixam de pensar no que caçam.
Uns, outros, pobrecitos, caçam sem tanta ânsia.
Comem as sobras que lhes deixam os outros,
Comem a sua ração escravocrata,
Mas nem dão por isso. Ou melhor,
dão por tudo, mas não lhes afeta o fato.
Ciosos de que tudo não passa do mesmo -
da luta pela caça, do sofrimento constante,
dos objetivos todos vãos.
Aqueles mesmos de seus antescedentes, quase macacos.
Tão quase macacos quanto eles próprios, contemporâneos.
Quase macacos que evoluíram,
Que constuíram estradas,
Que cortaram florestas,
Que incrementaram as carroças,
Que transformaram riscos nas pedras em números cabeados.
Tão quase macacos...

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