domingo, 21 de fevereiro de 2010

Desejos

É hilário ver quando
Tento e quando tentas
Vender a alheios o que tenho e o que tens
Escondendo todas as tão sofridas ausências.

Que será que tem o outro?
Que deseja o outro?
Que sente o outro?
Quem será o outro.
Minha angústia constante.

Faço das minhas angústias
As células das minhas neuroses.
Tão tolas e tão bobas
Como a matéria que lhes dá subsistência.

Mas não consigo salta-las.
(Obstáculo constante:
cansam-me os atos preparatórios todos.
Entedeiam-me, impedem-me de prosseguir.
Nunca vou ao resultado).

Lambuzo-me da calda do bolo
E, tolo, não vejo e não provo nada do que está embaixo.
Nunca vou ao fundo,
Banho-me no raso, até que volto à costa.
Deito-me, canso-me e parto.

Nino as dores,
Adormecem.

Deixam-me dormir um pouco.
Até realizo alguns desejos impedidos.
Reprimidos, acorrentados, proibidos.
Ameaçam soltar-se e fugir da clausura -
Até o nascer do sol, somente.
Voltam as tocas, e de lá me esfaqueiam levemente.
Pinçam-me o interior, fazem doer um pouco,
Mas não se libertam, e nem me fazem mover.

E tudo recomeça, de novo.

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