sexta-feira, 30 de abril de 2010

Sem título 2

Eu, deus,
olho para baixo, e penso:
até onde eles chegaram...
De cima, eu os vejo, e penso:
lá se vão eles - agora eles se movimentam,
agora eles entram nos caramujos que construíram,
agora eles se movem um pouco mais lentamente, têm sono,
agora eles começam a trabalhar.
Agora, alguns deles se fantasiam de paletós e gravatas.
Eles sentam em frente a máquinas que construíram
Eles dão notícias aos outros:
eles dizem o que fizeram os outros deles.
Tentam compartilhar da angústia da solidão absoluta.
Outros deles, nesse mesmo momento, e aí me preocupa mais,
Entram em cabanas que construíram para se proteger da chuva que mando,
E gozam, julgando, achando que eles são eu.
Eles sentenciam, eles enclausuram os que não se adaptaram,
Eles engaiolam os que dizem que são loucos,
Eles acham que alguma coisa, de fato, importa.
Eles não vêem como os observo, como peixes em um aquário.
Eles não vêem que até acho singelo tudo o que construíram:
eu não podia imaginar, confesso.
Eu os olhos, perplexo: nem me orgulho, e nem lamento.
Não podia imaginar que essa brincadeira duraria tanto tempo.
Não imaginava que aquilo que dei a eles, e que eles batizaram de instinto
Faria com que construíssem tantas coisas,
Faria com que pensassem que precisavam executar tarefas,
Que precisariam matar as fomes,
Que precisariam aguentar as tormentas,
Que precisavam se esconder das tempestades que mando.
O que fiz deles?
O que eles fizeram deles?
(Do que isso importa?)

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